No mundo, quase metade de todas as mortes causadas pelo novo coronavírus (Covid-19) ocorreram dentro de casas de repouso. No Canadá, o número chegou a 80% das vítimas. Esses dados alarmantes reforçam a necessidade de reforma no atendimento ao idoso.
Além de fazerem parte do grupo de pessoas mais vulneráveis a doença pela idade avançada, os moradores das instituições de longa permanência para idosos correm mais riscos por variados motivos. Geralmente têm doenças subjacentes ou comorbidades em estágios avançados; mantêm contato próximo com variadas pessoas, sejam cuidadores ou outros coabitantes; passam muito tempo em ambientes fechados e com indivíduos também vulneráveis. Estando, assim, em contato diário com um ambiente que ao invés de protegê-los, pode funcionar como catalisador para a propagação do vírus.
É clara a urgência de se investir mais em segurança, inspeções e padrões de qualidade em casas de repouso. Não basta apenas pensar soluções para o momento de crise.
Especialistas apontam que no futuro grande parte dos idosos deve passar a ser cuidada em casa pelo maior tempo possível. Os fatores vão desde ser a vontade da maioria deles, que prezam por sua autonomia e independência, até ser menos custoso a família.
Todo mundo vai envelhecer um dia e quer passar por esse processo da melhor forma possível. Em países como a Noruega e a Suécia, o atendimento ao idoso é excelente, mas custa caro aos contribuintes e, a longo prazo, com o aumento da população sênior, pode não se sustentar.
Outra questão importante, é a rotatividade de funcionários das instituições de longa permanência para idosos. Na Alemanha, quase um terço dos trabalhadores do setor deixa o emprego depois de apenas um ano.
O principal fator que explica essa realidade provém das condições de trabalho: os prestadores de cuidados recebem, em média, 35% menos do que as pessoas que cumprem funções similares em hospitais, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Essa rotatividade afeta e muito os residentes das instituições, principalmente, as pessoas com demência, que representam a maioria dessa população.
A preocupação com os cuidados do dia a dia, como impedir quedas, manter a alimentação adequada, tomar os remédios na hora certa, entre outros itens, é um dos fatores que motiva as famílias a colocarem idosos em casas de repouso. Mas, no geral, esses ambientes não contemplam um item essencial para uma real qualidade de vida: a preocupação com o se sentir feliz. Mas mesmo no atendimento ao idoso tradicional prestado em casa esse é um ponto que precisa melhorar.
A Buurtzorg, fornecedora de enfermagem holandesa conhecida pela qualidade dos seus serviços, defende que o essencial é deixar os enfermeiros fazerem seu trabalho, retirar as burocracias e pregar a autonomia da equipe. Facilitando os processos, perde-se menos tempo no frívolo e os enfermeiros podem se concentrar no essencial, que é o cuidado o atendimento ao idoso.
Chegando ao Brasil em uma parceria com a Laços Saúde, a Buurtzorg precisou ser adaptada aos moldes do país. “A cultura, legislação, modelo assistencial e organização dos serviços são diferentes em cada local. Assim como o modelo precisou de adaptação em cada um dos 25 países onde já está implementado, aqui também precisamos observar essas diferenças”, conta Martha Oliveira, diretora executiva da Laços Saúde.
Existem dois pilares no modelo internacional da empresa: o cuidado a todas as necessidades do cliente que possam ser feitas em sua casa e a forma de organização, onde há a possibilidade de se ter times de enfermagem bem treinados, com autonomia e, realmente, empoderados no cuidado aos pacientes.
Segundo Iohana Salla, diretora técnica da Laços Saúde, esses pilares precisam ser mantidos na sua aplicação no Brasil. “O sucesso holandês se pauta na figura da enfermeira e no modelo colaborativo, onde a premissa é a autogestão. O que é bastante inovador e desafiador pois a maioria dos modelos de saúde ainda concentra as decisões na figura do médico”, completa.
Melhorar o atendimento ao idoso não é um processo rápido e nem barato. Mas ignorar os problemas e subordinar a terceira idade a maus cuidados, só aumenta e posterga os custos para mais tarde. É uma responsabilidade social olhar para a causa e pensar soluções para os idosos, para os profissionais do setor, para as famílias, em consequência, para todos.
Artigo adaptado da matéria do The Economist, para conferir o material original, clique aqui.