Atendimento domiciliar: do curativo ao tratamento do câncer

Evolução no conhecimento e na tecnologia permite tratar o paciente oncológico como crônico e realizar a terapia em casa 

Com o entendimento de que internações hospitalares devem ser destinadas para situações agudas, aliado à busca por bem-estar e boas condições de saúde durante toda a vida, a rede assistencial dividiu-se em múltiplos serviços para atender o paciente em todas as suas necessidades.

A miniaturização e mobilidade das tecnologias médicas permitiu que a casa se tornasse cada vez mais um local de cuidado. No início, buscava-se oferecer apoio para pacientes que se recuperavam de cirurgias, com trocas de curativos, monitoramento e fisioterapia. 

Para os doentes crônicos, a articulação da rede mostrou que o atendimento preventivo e o acompanhamento constante evitavam a agudização dos casos e eventuais internações. “Do ponto de vista de gestão de saúde, um paciente com diabetes ou insuficiência renal, por exemplo, é mais bem avaliado e apresenta menos quadros de descompensação quando é acompanhado em casa. O resultado é uma resposta melhor ao tratamento, mais qualidade de vida e menos tempo no hospital”, explica o diretor-presidente do Centro de Combate ao Câncer, Cid Gusmão.

Agora, com a evolução na oncologia, não só os pacientes com câncer passam a ser considerados crônicos, como também podem ser tratados em casa.

“As medicações novas de formulação oral, especialmente a terapia molecular e a imunoterapia, mudam a forma e o panorama de tratamento do câncer. Houve um aumento da taxa de cura e sobrevida do paciente metastático e agora não é preciso de um regime hospitalar para tratá-lo.”

Cid Gusmão, diretor-presidente do Centro de Combate ao Câncer

O tratamento oncológico em casa implica também em redução no chamado custo social: perdem-se menos dias de trabalho e tempo com deslocamentos e esperas. “O novo conceito é fazer o gerenciamento oncológico de forma domiciliar. A unidade de saúde é que vai ao paciente. A enfermeira ou navegadora torna-se o ponto de controle, avaliação e seguimento dele, organizando os atendimentos de nutrição, fisioterapia e enfermagem e acionando o médico de forma mais pontual.”

Porém, este movimento, que está crescendo na Europa, nos Estados Unidos e Canadá, demanda expertises diferentes, já que o câncer, como doença sistêmica, implica em necessidades de atendimento especializado e um tratamento mais intenso.  

Além disso, mesmo que familiares, cuidadores e pacientes sejam bem orientados sobre a medicação oral, um olhar especializado é importante, dada a complexidade do tratamento. “Mesmo oral, o medicamento tem toxicidade. A família é leiga e está em uma situação de estresse, então, é importante ter o apoio da enfermeira, da farmacêutica e da nutricionista, por exemplo, para avaliar o paciente, mudar a dieta e fazer a conciliação medicamentosa.”

O apoio neste momento de alteração da dinâmica familiar e da rotina dos pacientes é uma das vantagens da assistência domiciliar, mas o modelo também acaba gerando mais valor para o paciente e para o próprio sistema de saúde. “Temos ganhos sociais, psicológicos, entendemos melhor a jornada do paciente e também beneficiamos as fontes pagadoras em custo-efetividade. Todas as transversais se beneficiam”, conclui Gusmão.