Coordenação do cuidado e tecnologia: combinação para um sistema de saúde sustentável

Coordenação do cuidado e tecnologia

A revolução que promete bem-estar e mais qualidade de vida aos beneficiários do mercado de saúde inclui inteligência artificial, big data e informações em tempo real 

Coordenação do cuidado e tecnologia

Em tempos de tecnologia por toda a parte, já nos acostumamos a uma rotina repleta de algoritmos e inteligência artificial. Quase todos os setores da sociedade têm sido impactados com novas ferramentas, mas um dos que caminha a passos largos com as novidades é o da saúde. 

Não faltam aplicativos para ajudar a monitorar desde a pressão arterial até a ingestão de açúcar; prontuários eletrônicos são comuns em hospitais, clínicas e laboratórios; e as teleconsultas agilizaram o atendimento de muita gente. Mas, apesar da oferta de sistemas promissores, uma pergunta mobiliza o mercado de saúde: como aproveitar ao máximo os benefícios da tecnologia, para apoiar a coordenação do cuidado?

Esvana Cipriano, enfermeira e mentora em Modelagem de Linhas de Cuidado, no Diálogos Inlags, afirma que a articulação eficiente dentro da equipe assistencial, compartilhando informações que levem às melhores decisões em relação ao paciente, não é tarefa fácil. Apesar de desafiadora, a coordenação do cuidado é um dos pilares da Atenção Primária da Saúde (APS). Quando o foco muda da doença para a saúde, pensando-se no bem-estar do paciente e na prevenção de enfermidades, é possível organizar as estratégias de atuação, bem como orientar a assistência. 

E os números provam que tornar a coordenação do cuidado mais eficaz, tanto na rede privada quanto na pública, traz ganhos não apenas para os beneficiários, mas também significa economia para o sistema como um todo. Dados do Ministério da Saúde indicam que 85% dos problemas de saúde podem ser resolvidos sem a necessidade de se procurar um serviço de emergência, o que já reduziria muito os gastos com medicamentos e exames.

E é aí que a tecnologia entra. Para Guilherme Wagner, médico de família e membro da equipe que coordena o programa de Atenção Primária da Rede D’Or, a tecnologia é a grande aliada no fornecimento de dados para o mercado de saúde. “Precisamos buscar os dados dos pacientes e beneficiários e fazer com que eles circulem. As ferramentas permitem reunir, em tempo real, informações qualificadas,  trabalhá-las e devolvê-las para as equipes que estão na ponta, no dia a dia com os pacientes”, explica o especialista. 

Na coordenação do cuidado, essas informações são preciosas. A inteligência artificial, por exemplo, já consegue ler imagens diagnósticas e tem conseguido prever quem corre o risco de ter AVC e infarto em um período de 12 meses. Com essa informação nas mãos, a equipe da coordenação do cuidado pode atuar antes de qualquer complicação. 

Integração, colaboração e atendimento em tempo real

Os robôs Larissa e Laura são tecnologias que já fazem diferença na gestão da saúde. O primeiro é um lançamento da healthtech Laços Saúde, especializada em atendimento domiciliar para idosos. Larissa é uma enfermeira virtual atenta  e disponível 24 horas por dia: ela é responsável por lembrar seus pacientes de tomar os medicamentos na hora certa, não esquecer de beber água, se exercitar e comparecer às consultas e exames agendados. 

Já o app Laura está disponível para hospitais, operadoras e secretarias. Em seu menu estão serviços como o prontuário único do paciente, alertas de exames com resultados críticos e suporte para tomada de decisões clínicas, além de uma linha do tempo com os principais eventos das internações, como exames, cultura, medicação e sinais vitais. Segundo dados do próprio aplicativo, as instituições que adotaram a Laura tiveram uma redução de 25% na taxa de mortalidade geral e de 10% no tempo médio de internação por paciente.

Para Esvana, apesar de as tecnologias serem fundamentais para um boa gestão, elas precisam de equipes bem preparadas para operá-las e interpretar as informações geradas. E as empresas devem saber quais são seus objetivos ao adotar uma ou outra ferramenta, de modo a atender toda a demanda da rede (desde os beneficiários até os enfermeiros, médicos especialistas e gestores) e determinar sua atuação. Como usar a inteligência artificial para levantar dados da saúde dos beneficiários e traçar propostas para ajudá-los a garantir qualidade de vida e bem-estar? Como os profissionais responsáveis pela coordenação do cuidado, sabendo dessas informações, podem intervir? 

Essas perguntas são cruciais, mas uma coisa é certa: tecnologia e coordenação do cuidado, quando combinadas, ajudam a fortalecer o vínculo com o paciente. Quando a pessoa se sente olhada, cuidada de maneira respeitosa e tendo seus hábitos e vontades levados em consideração, a adesão ao tratamento e às propostas preditivas se torna mais fácil. E isso gera um efeito em cascata positivo não só para o sistema de saúde, mas para o indivíduo e a sociedade como um todo.